O que o mundo corporativo poderia aprender com os ensinamentos ancestrais? A competição x complementariedade
Os modelos de avaliação de desempenho começam a passar por mudanças no mundo corporativo. Recentemente, em artigo publicado, a consultoria americana Deloitte calcula que seus executivos ao redor do mundo gastam 2 milhões de horas por ano com processos de avaliação sendo que muitas destas horas são desperdiçadas com burocracia. Neste sentido, algumas das maiores empresas multinacionais, estão iniciando mudanças em seus processos de avaliação, exatamente por perceberem que este sistema já não é mais efetivo, por possuir estruturas muito rígidas e demandar muito tempo, principalmente por parte das lideranças, para serem conduzidos.
Sabemos que atualmente o mundo é cada vez mais volátil, complexo, ágil, incerto e ambíguo (VUCA), e as organizações exigem muito mais dos seus colaboradores. Mas, de fato, será que eles conseguem utilizar o seu pleno potencial?
As cobranças do dia a dia, os resultados e a alta performance, fizeram com que “a competitividade” se tornasse algo fundamental dentro das empresas. Se sou avaliado pela minha competência em comunicação, por exemplo, e não a tenho como ponto forte, sou capaz de me “desdobrar” para ser igual ou melhor ao meu colega que a possui , mesmo que para isto, tenha que dispender o triplo da minha energia e do meu tempo em um atributo que nem mesmo é o meu talento. E ´daí, com o tempo sou até capaz de esquecer quais são os meus reais talentos, pois meu foco de atenção fica tão acentuado em “ser melhor do que os meus colegas”, que acabo gerando , mesmo que de forma inconsciente, cada vez mais a competitividade, onde as principais coordenadas são a aparência, o poder externo, o status e a possessão. Vivo as minhas mascaras e os meus desejos para poder ser reconhecido, exercer meu poder, sentir-me mais seguro e confiante.
De fato, perdermos a sabedoria dos povos antigos. Muitos destes povos viviam um estilo de vida muito simples e prático, onde a meditação, a preservação da natureza e a vida em comunidade se faziam presente. Metaforicamente, eles entendiam que o ser humano é o tronco da arvore que se conecta com a terra e o céu sagrados.
Eles ensinavam as suas crianças que elas eram almas que escolheram ter uma experiência em um corpo físico, e cada alma trazia algo inato (uma virtude/talento) que deveria ser descoberto antes que a mente “fosse contaminada” e assumisse o controle, desenvolvendo a personalidade e os padrões comportamentais.
A vida para muitos destes povos tinham duas razões principais:
1) viver a missão de vida
2) experimentar os defeitos e mostrar as virtudes, sem julgamentos.
A liderança destas comunidades estava focada na “sabedoria” dos mais velhos, que eram os sábios, homens com um nível de consciência muito elevado, capazes de receber informações de outros planos para servir a sua comunidade.
Nesta época, quando uma criança nascia, estes sábios eram responsáveis por observar o desenvolvimento da criança a fim de descobrir qual talento ela trazia para o mundo – algumas delas tinham talento para oratória, gostavam de falar em público e contar histórias, outras, cantavam ou dançavam de maneira natural, também tinham aquelas que lideravam as brincadeiras. Enfim, as crianças eram observadas até os sete anos, e quando chegavam nesta idade, os sábios já haviam descoberto o talento de cada criança e assim nomeavam mentores para treinar estas crianças e prepará-las para a maestria.
Dos 14 aos 21 anos, agora jovens, eles exercitavam seus talentos com a comunidade. E a partir dos 21 anos, como adultos, estavam prontos para servir esta comunidade naquilo que tinham aprendido e desenvolvido – o seu talento maior. Pertenciam a uma cultura do “servir” – onde todos eram complementares, onde existia a integração de pessoas e coisas de modo que tudo funcionasse harmonicamente, sem competição, em uma cultura onde o “bem comum” superava o “interesse próprio”.
Estes povos tinham a consciência que não existe duas pessoas iguais no planeta e incentivavam o exercício de suas virtudes, sem focar nos erros (estes eram vistos apenas como aprendizados). E assim, cada qual na comunidade sabia exatamente a peça do quebra-cabeças que lhe cabia e, havia a aceitação de cada uma delas, fazendo com que vivessem plenamente os seus talentos em uma vida de serviço à comunidade.
O que podemos aprender com estes ensinamentos no mundo corporativo?
Os sistemas de avaliação de desempenho são baseados em competência/performance e foco nos gap´s dos colaboradores, o que gera um ambiente de competição, porque incentiva as pessoas a trabalhar e fortalecer cada vez mais aspectos da sua personalidade, com seus padrões mentais, emocionais e máscaras, afastando-as assim de quem elas realmente são, de sua essência, com seu reais talentos e virtudes.
Então porque ao invés das organizações terem um sistema de avaliação de performance/competência, que faz com que as pessoas atuem em um nível de consciência diminuída /focada nos vícios da personalidade, não implementam um sistema de “gestão de complementariedade” – aqui, as pessoas por meio de uma forte visão de futuro e maior engajamento com propósito organizacional e seu próprio propósito – seriam capazes de apenas acessar os seus reais talentos, serem quem são, expressar as virtudes e aprender com os defeitos, em um ambiente transparente, coerente, honesto e com intenções genuínas para o bem maior.
Acredito que ainda temos um longo caminho pela frente, mas estamos aqui neste planeta para nos complementarmos a cada momento e assim construirmos um mundo melhor.
Fica aqui a reflexão.
Até a próxima!
Forte abraço