Qual é o seu trabalho criativo?
Recentemente realizei um retiro baseado na vida dos Essênios, com o querido Xavier Pedro de Barcelona, e decidi escrever sobre um dos temas que me chamou muito a atenção: o trabalho criativo. Os Essênios, viveram próximo a Palestina junto ao mar de Monte Carmelo (segundo os estudos entre 2 a.C a 2 d.C ) e seguiam uma vida muito simples que lhes dava um total sentido de viver.
O trabalho criativo para os Essênios, era o trabalho onde a alma realizava uma atividade sem esforço, e ao realizá-la, não existia nem tempo nem espaço, era um momento onde tudo fluía em perfeita harmonia. Muito parecido com o conceito de Flow, utilizado pela Psicologia Positiva na atualidade.
Os Essênios acreditavam que quando um ser humano consciente manifestava a sua parte criativa ao mundo exterior, ele exercitava a sua real vocação , que nada mais é do que descobrir, reconhecer, aplicar e oferecer os seus dons aos demais , à comunidade – e, expressar a sua essência – realizar o que veio fazer neste planeta – a sua missão de vida.
Portanto, a palavra “trabalho” por si só, não existia para os Essênios, pois tudo era missão de vida – algo onde não se trocava tempo por dinheiro, como fazemos atualmente.
A comunidade essênia, encarava o nascimento de uma criança como uma alma que escolheu viver uma missão em um corpo físico, e para tanto, era de responsabilidade desta comunidade , ajudar a esta alma , considerada sagrada, a descobrir os seus dons naturais , o mais rapidamente possível , antes que a mente começasse a ser contaminada com crenças e limitações (pertencentes ao ego/personalidade).
E como faziam isso? Os mestres de grau mais alto (os sábios) da comunidade se propunham a observar as crianças até os sete anos de idade, para descobrir o que de nato elas traziam, exemplo: pintar, dançar, cozinhar, plantar, escrever. Se o dom de uma criança fosse descoberto até os sete anos, eles acreditavam que nunca esta criança poderia cair em depressão, porque o seu dom lhe daria autoestima, segurança em si mesma, e a faria sentir-se útil e assumir um papel complementar à comunidade.
Bem diferente da nossa sociedade atual, não é mesmo? Na vida moderna, focamos sempre nos defeitos, na competição, no ser melhor que o outro, ao invés da complementariedade. Exemplo: se um colega no trabalho fala idiomas melhor do que eu e ele é enviado ao exterior para uma reunião, eu, automaticamente me critico, me julgo, e me coloco para baixo. Mas, se eu me saio bem em uma apresentação, eu não faço mais do que a minha obrigação. E assim, vamos nos tornando inseguros, medrosos, com baixa autoestima, competitivos, agressivos, e nos afastamos cada vez mais da nossa própria essência. De fato, se soubéssemos o nosso trabalho criativo desde criança e aprendêssemos a sermos complementares e não competitivos, talvez o mundo estivesse diferente e as nossas vidas também.
Na comunidade essênia, as crianças eram preparadas e educadas para a sua missão de vida. Deste modo, elas não precisavam aparentar o que não eram. Se eu como essênia, não era uma boa cantora, mas trabalhava bem com a terra, esse era o dom que eu oferecia à comunidade, e eu me sentia feliz em fazê-lo, porque sabia que esta era a missão da minha alma, e assim, automaticamente o meu nível de consciência se expandia.
Se hoje eu te perguntasse “quem é você? ” , muito provavelmente a resposta seria sou um advogado, um taxista, um executivo, um programador de computador. E a pergunta não é o que você faz, mas quem você é? Se existe tal confusão, como podemos viver plenamente? Você não é um advogado ou um médico, você é uma alma que veio exercer uma atividade nesta vida. E, tal atividade pode ser sua missão de vida, quando você oferece os seus dons para a sociedade, ou pode ser apenas um trabalho, que está te escravizando (lugar onde se encontra grande parte da humanidade).
Por isso, na comunidade essênia não havia trabalho, havia missão de vida e vocação e os essênios aos 21 anos de idade já sabiam a razão de sua existência neste planeta e a partir daí viviam de forma simples. E aqui, a palavra apropriada é “viver” (uma vida plena e consciente) e não “sobreviver” (aparentando algo que não sou) – que me traz medos, inseguranças, crenças limitantes, e apegos emocionais e materiais.
Portanto, a grande reflexão que deixo para vocês é: Você sabe qual é o seu trabalho criativo? É capaz de recordar o que realmente gostava de fazer quando criança? Quais eram as suas reais paixões?
Eu fui perguntar para minha mãe quando retornei do retiro, porque não me lembrava muito da minha infância, até os sete anos de idade! E ao perguntar, algumas memórias começaram a vir à tona, e me recordei, que desde criança já gostava de inventar e escrever histórias, já era líder da turma e sabia escutar, saindo-me muito bem como conselheira! Algumas destas coisas, sempre estiveram presentes em minha vida! Sinal que minha alma , de alguma maneira, tem me guiado!
Que a paz esteja com vocês! (este era o cumprimento que os Essênios faziam quando se encontravam), e que tinha um significado muito bonito, mas isto é tema para outro artigo!
Dana-ho (Assim é!)
Um forte abraço,
Priscila Godoy