De onde vem o vazio existencial?
Tenho me deparado com muitas pessoas que me procuram para falar de seus “vazios”, muitas vezes são pessoas que já conquistaram bens materiais e que até possuem uma “vida estável”, e outras vezes, pessoas cansadas de sobreviver à vida, dizendo que nada parece fazer mais sentido. Seja qual for a sua situação, chegará um momento na vida (por experiencia própria) que você terá que olhar para os seus “vazios”.
A.H.Almaas, no seu livro Coração de Diamante, um dos livros que aborda este tema com muita clareza , nos explica:
O que é um VAZIO…
… Um vazio se refere a qualquer parte sua que tenha se perdido em consciência – num certo sentido, uma deficiência. E a consciência que perdemos é, logicamente, a nossa essência. Portanto, um vazio nada mais é do que a ausência de uma certa parte da nossa essência– a perda do amor, do valor, da força, da vontade, do prazer, de quaisquer dessas qualidades ou virtudes da essência. Por exemplo: quando você é desconectado do seu valor, o verdadeiro sentimento dessa desconexão é a sensação de que foi deixado um buraco dentro de você – ficou um vazio. Então você tem uma sensação de deficiência, uma sensação de inferioridade, e quer preenchê-la com valores externos – aprovações, elogios, o que quer que seja. E você tenta preencher o vazio com o que vem de fora. Esses vazios, é claro, se originaram na sua infância, como um resultado parcial de experiências traumáticas ou conflitos em seu ambiente. Você foi desligado de uma dessas qualidades/virtudes nessa época. Talvez você tenha sentido que seus pais não o valorizavam, ou não o tratavam de acordo com as suas expectativas e desejos, ou eles agiram como se a sua presença não fosse importante, enfim, cada um de nós tem suas percepções.
Para preencher estes buracos saímos para o mundo exterior buscando apreciações alheias em relacionamentos onde nos sentimos valorizados, plenos e preenchidos. Quando estou com aquela pessoa eu realmente sinto que tenho valor, mas inconscientemente, sinto que aquela pessoa é que está com o meu valor. A outra pessoa não só me faz sentir valioso, mas o que quer que ela esteja me dando, é uma parte de mim, é parte da minha própria plenitude que eu experimento.” Inconscientemente, eu não vejo que a parte da pessoa que faz com que eu sinta o meu valor esteja separada de mim; eu a vejo como uma parte de mim, preenchendo esse buraco. Eu não sei que existe um buraco, eu só me sinto preenchido. Se a pessoa morre, ou se o relacionamento acaba, eu não sinto que estou perdendo essa pessoa. Eu sinto que estou perdendo o que quer que esteja preenchendo o buraco. Portanto, a perda de uma pessoa não é sentida como a perda de uma pessoa separada. É experimentada como a perda de si mesmo, porque, inconscientemente, você vê essa pessoa como um preenchimento de uma parte sua. Assim sendo, ele(a) se tornou uma parte de você; perdendo então essa pessoa, você experimenta a perda de uma parte de si mesmo e, como consequência, sente um buraco. Eis porque isso é tão doloroso. Parece que você está sendo cortado e que alguma coisa está sendo tirada de você.
Por isso que a ferida e a dor estão relacionados ao dano da perda. Algumas vezes parece que você perdeu o seu coração; algumas vezes parece que você perdeu a sua segurança, sua força, sua vontade – ou o que quer que seja que a pessoa tenha preenchido em você. Às vezes, a pessoa dá a você determinação, força, apoio, amor, valor. Então, quando você perde uma pessoa próxima, você sente o buraco que a pessoa estava preenchendo.
Eu vivi muitas perdas em minha vida, como talvez você tenha vivido, de pessoas muito queridas que me fizeram entrar em contato com “grandes crateras” – por vezes, muito difíceis de serem encaradas. Mas, a coragem e a vontade de me tornar uma pessoa melhor, me levou a olhar para cada uma delas, mesmo que com medo de encará-las. Quando fiz isso, me entreguei e me joguei no buraco, pude perceber que ele nem era tão profundo assim, e que permanecer nele durante um tempo, sem tentar entendê-lo, sem colocar nenhuma emoção ou julgamento , apenas observá-lo – começou a me trazer paz, uma paz infinita, uma reconexão com a minha essência.
Eu continuo ainda inúmeras vezes, percebendo os meus vazios e buracos internos, mas hoje, já consigo olhar para eles com mais amor e compaixão e vejo neles a oportunidade de sanar as minhas feridas, de crescer e de me conhecer um pouco mais, tomando o meu poder pessoal , me empoderando das minhas virtudes, me aproximando mais da minha essência – que a todo momento pode ser resgatada.
Eu o convido a refletir sobre os “seus vazios” e a não tentar preenchê-los de maneira automática (é o que faz a personalidade), mas, apenas olhe para ele com um olhar compassivo e amoroso.
Enquanto eu escrevia este texto, me veio à mente um vídeo do mergulhador francês Guillaume Nery – muitas vezes, me senti desta maneira, caindo no buraco em pura entrega.
Fonte para estudo: Coração de Diamante, A.H.Almaas.
Sucesso em seu caminhar,
Forte abraço
Priscila Godoy